sábado, 30 de janeiro de 2010

MISTÉRIO NA MORTE DE MARDONIO DIOGENES NO ESTADO DO CEARÁ


ENTENDA O HISTÓRICO DE MORTES QUE CULMINOU COM A MORTE DO PODEROSO FAZENDEIRO E EX-PREFEITO DA PEQUENA CIDADE DE PEREIRO A 25 KM DA CIDADE DE SÃO MIGUEL NO ALTO OESTE DO RIO GRANDE DO NORTE


FILHO SUSPEITO DA MORTE DO PAI


A Polícia do Ceará ainda continua sem pistas dos matadores de Mardônio Diógenes, mas, baseado em informações de parentes da vítima, as investigações feitas até agora apontam para um suspeito: Teofagenes, filho da própria vítima.


O agropecuarista e ex-Prefeito de Pereiro foi assassinado na manhã da última quinta feira de dezembro de 2009, na fazenda Campos, de sua propriedade no interior cearense. No momento, ele caminhava de uma porteira, que estava sendo recuperada por dois empregados seus, em direção à casa sede da fazenda, quando foi abordado por dois motoqueiros.


Ao se identificar, Mardônio foi atingido por vários tiros de pistolas de grosso calibre pelos homens que pilotavam a moto. Sem tempo de reagir e alvejado por vários tiros, ele morreu no local da emboscada. A Polícia cearense, de imediato, chegou a pensar tratar-se de crime de encomenda, por vingança, isto porque Mardônio Diogenes tinha muitos inimigos, todos parentes de vítimas que ele era acusado de mandar matá-los, principalmente, nos anos 70 e 80.


Mas, aos poucos, começou a girar as investigações em direção do próprio filho da vítima. Aliás, Teofágenes era seu filho adotivo – o pai seria um próprio irmão de Mardônio, também assassinado na época sangrenta denominada nas rodas policiais do Ceará e Rio Grande do Norte de “ Rosário de Crimes”.


Mas, caso se confirmem as suspeitas que recaem sobre o próprio filho da vítima, então quais os motivos que levariam Teofágenes se voltar contra o próprio pai, ao ponto de mandá-lo executar?


Então, é exatamente nesse ponto, que reside a questão.


Mardônio sempre esteve no furacão do chamado Sindicato da Morte que aterrorizava os moradores da fronteira dos dois Estados nordestinos, entre Icó e São Miguel, este localizado na Tromba do Elefante. O pistoleiro Idelfonso Maia Cunha era o principal matador do grupo familiar, mas destacavam-se também os pistoleiros Valberto Silveira, Zilcar Holanda e Cícero Ivamar, segundo matéria publicada no jornal O Povo, de Fortaleza.


Com a morte de Mardônio, semana passada, em seu próprio bunker, a Polícia cearense se envolve novamente com casos de pistolagem na região, pondo no olho do furacão a própria família Diógenes como protagonistas – vítima e autor do crime da fazenda Campos.


PARA ENTENDER O CASO:



Em sua edição de onze de agosto de l988, uma quinta-feira, O POVO destaca em manchete de página inteira, ilustrada por seis fotos envolvendo membros do chamado esquadrão da morte:

POLÍCIA DESCOBRE LIGAÇÕES NA SEQUÊNCIA DE ASSASSINATOS

Só agora a Polícia começa a formar o quebra-cabeças para explicar a sucessão de assassinatos e atentados ocorridos nos últimos onze anos envolvendo fazendeiros, políticos e grandes comerciantes da região do Vale do Jaguaribe.


Ildefonso Maia Cunha, o “Maínha” (preso dias antes), a cada depoimento revela as intrigas existentes entre as famílias Diógenes, Maia e Nunes, que se servem de pistoleiros para eliminar seus inimigos. Somente ontem, o delegado Francisco Quintino Farias, diretor de Polícia especializada da Secretaria de Segurança Pública, revelou parte das declarações de “Maínha” tomadas anteontem – durante dez horas de ininterrupta inquirição às portas fechadas.


Diante dos detalhes e confissões do pistoleiro, a polícia parte agora para novos desdobramentos nas investigações …para apurar os crimes em que “Maínha” teve participação, como a execução do ex-Prefeito de Pereiro, João Terceiro de Souza, morto durante a chacina de Alto Santo, em 83.

Os nomes dos mandantes, porém, não são revelados por Idelfonso, mas a Polícia já faz levantamentos a esse respeito, sigilosamente.

CADEIA DE CRIMES

Todos os crimes tem relação entre si, segundo o delegado Farias. A sequência de assassinatos teve início quando Francisco Telsângenes Diógenes, o “Chiquinho Diógenes”, mandou matar um engenheiro da Paraíba, na cidade de Juazeiro do Norte. A partir dali, teve início a matança.

Revoltada com o crime, a família do engenheiro veio ao Ceará em busca de auxílio do fazendeiro Raul Nunes de Brito para que este apontasse um pistoleiro que poderia fazer o serviço “sem risco”, isto é, matasse “Chiquinho Diógenes”.


Raul , então, entrou em contato com o pistoleiro Nilson Cunha e, ele, por sua vez, fez “Maínha” chegar aos Nunes. “Maínha”, porém, segundo depoimento, foi ao encontro dos Nunes com um só objetivo: conhecer de perto os inimigos de seu protetor.


Disse ter conhecido Raul e seus filhos, Edilson e Raul. “Mainha” não aceitou o serviço. Pelo contrário, contou toda a trama a Telsângenes. Começava ali, a intriga entre Nunes e Diógenes.

Raul Nunes – homem rico e valente, dono de fazendas no Vale do Jaguaribe – passou a ser o alvo dos Diógenes. Numa reunião na casa de “Chiquinho”, este contratou “Maínha” e os pistoleiros Antonio Carlos, Sérvulo Moreira Maia, o “Servinho”, e Antonino para matar Raul. Dias depois, “Maínha” e “Chiquinho” resolveram fazer uma campana na casa do fazendeiro em Fortaleza, na Parangaba.


Na ocasião, “Chiquinho” dirigia uma camioneta Chevrolet C-l0. O carro parou defronte a casa do fazendeiro e Idelfonso resolveu matar o inimigo naquele dia. Sozinho, invadiu a residência e descarregou o revólver. Houve reação e o pistoleiro fugiu pensando ter assassinado Raul…


Raul, porém, não teve a mesma sorte numa outra ocasião. Aconteceu cerca de um ano após o atentado. Quatro homens, ocupando uma camioneta de cor azul, com placas encobertas, surpreenderam Raul quando ele chegava a sua residência em companhia da mulher. Um dos atiradores surgiu sob a lona colocada na carroceria do veículo. O fazendeiro não teve tempo de reagir, sendo eliminado com vários tiros. Sua mulher saiu baleada.


No depoimento de anteontem, “Maínha” disse não ter participação nesse crime, mas apontou como autores o próprio “ Chiquinho Diógenes” e os pistoleiros “Servinho” e Luís Leitão.


Restava à família de Raul vingar sua morte. Edilson e Iran, filhos do morto, então, contrataram o pistoleiro José Davi, vulgo Cigano, para matar Chiquinho. O matador levou azar. Foi ao reduto de Chiquinho levantar seus hábitos e lá morreu.

Maínha disse que um telefonema chegado à casa de seu protetor, em Jaguaribe, informava que Cigano estava na região para matá-lo e que naquela ocasião se encontrava com outras pessoas bebendo em uma churrascaria em pleno centro de Jaguaretama. Rapidamente, “ Chiquinho”, Servinho e outro homem ao encontro de Cigano e o encontraram.


Abriram fogo matando o pistoleiro, um homem pertencente à família Guerra e ferindo a coletora da Fazenda de Jaguaretama. Inconformado com a morte do pistoleiro, os filhos de Raul decidiram agir por conta própria. Segundo “Maínha”, Iran Nunes participou pessoalmente da execução de “Chiquinho”.


Por volta das l4 horas de nove de abril de 83, um sábado, “Chiquinho” foi tocaiado na avenida Pontes Vieira. Seguia em sua Toyota placas AA-3350, licença de Manaus, em direção a sua residência, quando foi interceptado por um Opala preto. Neste veículo, segundo testemunhas, viajavam pelo menos duas pessoas. Uma delas – que “Maínha” diz ter sido o próprio Iran Nunes – detonou vários tiros em “Chiquinho”.


“Chiquinho”, ao ser atingido na omoplata esquerda ainda tentou controlar a Toyota, mas não conseguiu. A camioneta bateu num poste, enquanto os assassinos fugiam. O fazendeiro morreu a caminho da Clínica dos Acidentados. Dentro do carro, a Polícia encontrou dois revólveres e um pente com 50 balas.


O fazendeiro sequer teve tempo de empunhar uma das armas. A sequência de crimes continuou com o plano armado por Mardônio Diógenes , prefeito de Pereiro, para matar um dos filhos de Raul, no caso específico, Iran, em vingança pela morte de “Chiquinho”, seu irmão. A trama foi articulada em Pereiro. Para esse ser viço foram convocados “Maínha”, Cícero Ivamar Queiroz Diógenes, o “Dunga”, Zilcar Holanda Neto e José Valberto da Silveira.



DINHEIRO PÚBLICO

“ Maínha” conta que, da fazenda Pereiro, os quatro homens vieram para Fortaleza num Chevette novo, comprado pelo Prefeito para sua mulher, Maria das Graças Aquino, irmã do empresário Adelmo Aquino. Nessa cidade, receberam o apoio de José Ribamar Cunha, o “Riba”, residente no conjunto residencial Prefeito José Walter.



Para que Valberto fizesse o levantamento da vida de Iran, Mardonio entregou-lhe um cheque de trinta mil cruzeiros ( na época ) que seria sacado no BEC contra a conta da Prefeitura de Pereiro. No depoimento prestado na terça-feira, “ Maínha” fez um relato detalhado do assassinato de Iran, na época, despachante comercial.

Desconfiado, “Maínha” preferiu não executar o crime no Chevette. Foram, então, utilizadas motocicletas. Uma CB-400, de Riba, era pilotada por Valberto e na garupa, “Maínha”. Na outra, seguiram Zilcar e Ivamar “Dunga”. Iran foi executado no dia l6 de janeiro de 83, quando parou seu Voyage azul, placas XU-8l78, no cruzamento das avenidas desembargador Moreira com Santos Dumont, “Maínha” saltou da moto e detonou vários tiros contra Iran, que teve morte imediata.


Em seguida, os pistoleiros fugiram para a casa de “Riba”, onde comemoraram o crime, tomando cachaça.



MAIS CRIMES

“Maínha” forneceu ainda informações sobre outros crimes, como a morte de Expedito Leite, a chacina de João Terceiro sua mulher, um soldado e o motorista do casal. Sobre o primeiro crime, seu primeiro assassinato, disse que praticou porque Expedito mandou matar seu primo Asteu Diógenes na fazenda Pau Darco, em Jaguararibe.


Segundo ele sabia que, após matar Asteu, Expedito fugira para Fortaleza em companhia de seu “homem de confiança” e pistoleiro conhecido Altamiro.


Outro crime relatado pelo pistoleiro em 23 de janeiro de 1982, quando ele eliminou, no lugar denominado Alíbio dos Cacões, em Quixadá, o fazendeiro – e inimigo de “Chiquinho” – Orismildo, conhecido por “Caboclo Barbaro”. Em depoimento, aos delegados Francisco Quintino e luis coelho, Idelfonso historiou a inimizade entre seu patrão e Orismildo.


Disse que, por inveja, “Caboclo Bárbaro” chegou a denunciar ao Gescap, órgão do Governo do Estado, criado pelo governador Gonzaga Mota. A rixa entre o próprio “Maínha” e “Caboclo” agravou-se quando o fazendeiro acusou Idelfonso de ter furtado duas cangalhas. Certa vez ocorreu um atrito entre os dois homens.

“Maínha” planejou matar o inimigo durante uma festa na fazenda de Afonso Maia, em Quixadá, mas, devido a interferência de “Chiquinho” o crime não aconteceu. “Maínha” disse que Orismildo chegou a contratar dois pistoleiros do Jaguaribe para matá-lo. “Maínha” o matou na presença de pelo menos seis testemunhas.


Após executar “Caboclo”, virou-se para as testemunhas e disse:


- Matei porque ele me chamou de ladrão – concluiu.







FONTE; CABORÉ

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